Os idosos são o grupo mais impactado pois tanto a mobilidade dessa população e quanto a paralisação de tratamentos, por exemplo, foi diretamente afetada.
Para a abordagem desse contexto, docentes de Fisioterapia e alunos da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), instituição que integra o grupo Cruzeiro do Sul Educacional, em conjunto com docentes e pesquisadores da Unicamp, IFRJ, Faculdade de Medicina de Jundiaí, Universidade de Pernambuco, UFMG, Universidade de Otago e Hospital Albert Einstein, que integram a Rede de Pesquisa REMOBILIZE, realizaram um estudo para investigar o impacto imediato da pandemia na mobilidade e saúde de idosos brasileiros.
Idealizada pela professora de doutorado e mestrado em Fisioterapia da Unicid, e consultora externa em dois projetos na Organização Mundial de Saúde (OMS), Monica Perracini, a pesquisa está sendo realizada virtualmente e por telefone, tendo iniciado em 2020 e vai se estender acompanhando os idosos por um período de 18 meses.
Na primeira onda o estudo contou com a participação de 1.482 idosos com 60 anos ou mais, de 22 estados do Brasil.
A pesquisa apontou uma queda significativa na mobilidade nos espaços de vida (se deslocar na vizinhança, na cidade e fora da cidade) desde o surto da pandemia do COVID-19.
“Todos os idosos reduziram seus espaços de vida, mas o impacto foi maior para idosos que moravam sozinhos, com idade entre 70 e 79 anos, e aqueles que se declararam de cor preta.
Outras variáveis associadas à mudança na mobilidade nos espaços de vida, em menor grau, foram ser mulher, ter baixa escolaridade e baixa renda”, explica Monica.
Idosos de todas regiões do Brasil responderam, porém, a predominância foi no Sudeste com 43,2% de respostas, sendo a maior parte mulheres 73,9% e 26,1% homens.
Aproximadamente 57% relataram ter duas ou mais doenças, entre elas, Osteoporose, Artrite, Asma, Doença Arterial, Insuficiência Cardíaca, Infarto, Parkinson, Diabetes, Doença Gastrointestinal, Depressão, Derrame (AVC).
Ainda segundo a pesquisa, 80% estavam seguindo as medidas de restrição social, 46,9% só estavam saindo quando totalmente inevitável, 29,3% isolados completamente, 11,4% saindo e tomando cuidado, 8,9% recebem visitas, 2,8% alegaram que não mudaram a rotina e somente 0,5% ainda saem para caminhar.
Já em Outubro 2020 o cenário já havia mudado um pouco, 44,2% estavam saindo quando totalmente inevitável, apenas 11,6% seguiam totalmente isolados, 10,1% restritos em casa mas recebendo visitas, 21,7% relataram estar saindo de casa com cuidado, 2,1% não mudaram a rotina e 3% estavam saindo para caminhar.
Os dados de 2021 estão sendo analisados, mas há uma sinalização de que ainda que vacinados boa parte dos idosos mantém a restrição do deslocamento fora de casa.
Segundo os levantamentos, cerca de 87% dos idosos antes da pandemia circulavam pela vizinhança, número que atualmente caiu para 50%. “Nossos resultados mostraram mudanças significativas na mobilidade dos idosos.
As consequências podem ser desastrosas, uma vez com a restrição da mobilidade os idosos podem perder força e resistência muscular, equilíbrio e flexibilidade, aumentado a dificuldade para fazer atividades do dia a dia.
A docente ressalta ainda, que o projeto Remobilize, tem como propósito resgatar essa mobilidade para os idosos a longo prazo.
Panorama impactos da pandemia na saúde dos idosos
Em live realizada pela Unicid, professora Monica apontou que a pandemia chegou no momento que o mundo já estava discutindo o envelhecimento populacional, e sinalizou uma grande ameaça na vida dos idosos, necessitando que eles ficassem em casa, por ser a população mais vulnerável e de maior risco ao contrair a Covid-19.
Entretanto, o isolamento e distanciamento social, afetou a mobilidade e saúde dos idosos.
No decorrer da pandemia, 80% das mortes em todo mundo foram de pessoas idosas, e atualmente, 53% das internações ainda ocorrem em pessoas acima de 60 anos.
Segundo dados da Fiocruz, a mortalidade dos idosos é de 15% enquanto para população geral do Brasil está entre 2% a 8,1%. E aqueles com 80 anos e mais a mortalidade atinge 66%.
Até que a população esteja totalmente vacinada, ainda existe uma ameaça maior para pessoas idosas.
A docente de fisioterapia da Unicid, Monica Perracini, relata que com a pandemia e o isolamento social, muitas questões vieram à tona na vida do idoso, entre elas, a solidão, interrupção de tratamentos fisioterapêuticos, hospitalares ou práticas de atividades físicas diárias, como também, desigualdades sociais, violência contra pessoa idosa e idadismo.
Ainda segundo dados apresentados pela professora, 73% dos países observaram uma interrupção dos idosos no tratamento para hipertensão, 50% dos tratamentos de diabetes foram descontínuos, 40% dos tratamentos de câncer, e 30% de doenças cardiovasculares. Além disso, 63% dos tratamentos de reabilitação foram pausados totalmente.
“Essas interrupções geram um grande impacto na saúde do idoso, pois aqueles que já precisavam fazer algum tipo de tratamento ficaram sem de uma forma abrupta, e os familiares se viram com uma demanda além para tentar de alguma forma ajudar nesses tratamentos e necessidades em casa.
Então, tivemos um impacto nos idosos, nas famílias e cuidadores deles, e nas Organizações e Profissionais de saúde que tiveram que se articular em relação a essa população, ” aponta Monica.
Mobilidade limitada
“A mobilidade foi limitada nesses momentos de pandemia, e os idosos foram convidados a ficarem em casa, sem poder caminhar, encontrar com amigos e familiares, sem irem fazer suas compras e afazeres. E isso traz inúmeras consequências”, avalia.
Segundo a professora, a mobilidade não é só a realização de uma tarefa motora, como por exemplo, levantar, andar, carregar objetos, mas também é preciso transitar em diferentes espaços.
“Quando temos uma boa mobilidade, conseguimos desempenhar melhor as tarefas motoras no dia a dia, dando uma qualidade e bem-estar de vida para os idosos.
Uma das preocupações com a pandemia é se a médio e longo prazo, a mobilidade dos idosos irá ficar comprometida diante do isolamento.
Com essas restrições, os idosos têm oito vezes mais chance de desenvolver uma limitação funcional.
E fica a preocupação se esses idosos que estão em casa há um ano irão desenvolver uma limitação maior futuramente”, relata a fisioterapeuta.
Por fim, a docente explica que para mudar esses impactos a longo prazo, é necessário se ter instrumentos nas unidades de saúde pública que possam fazer um cuidado mais integrado para monitoramento desses impactos do isolamento.
“É necessário ainda, aumentar a nossa oferta em educação, informação, reabilitação domiciliar, a fim de possibilitar, inclusive, maior tecnologia digital a esse público”, reforça.